terça-feira, 27 de novembro de 2012

Crepusculando

 
 
 
Sempre gostei muito de assistir filmes. E, nos últimos anos, esse gosto se intensificou ainda mais. Para minha alegria arrumei um marido tão apaixonado quanto eu.  No momento, estamos fazendo uma maratona Harry Potter nos deliciando com as aventuras do jovem bruxo e cia. Mas, isso é assunto para um outro dia. Hoje iremos nos concentrar na saga dos vampiros.
Filmes com a temática vampiresca nunca me chamaram a atenção. Talvez, tenha visto um ou outro, mas nada que despertasse meu interesse. Quando começou a febre com os livros de Stephenie Meyer "Amanhecer", "Lua Nova" e "Crepúsculo" que deram origem aos filmes não cheguei a ler nenhum título. Assisti ao primeiro filme em casa e aos demais no cinema. Sempre de maneira despretensiosa. Não tenho conhecimento de causa para elaborar um tratado sobre os filmes e, principalmente, dos livros que nem li.
No Brasil, temos o péssimo costume de tentar rebaixar a qualidade de títulos que fazem muito sucesso - foi assim com "Harry Potter" e agora com a triologia "50 tons de cinza" . Não sei se isso é inveja de autores que não são lidos ou se por não sermos um país de leitores não entendemos o fascínio que determinadas histórias despertam. Daí formamos 2 grupos distintos. De um lado, os fãs que devoram páginas e páginas ou compram ingressos para a estréia com meses de antencedência. E do outro, a turma do contra. Os puristas, os pseudo-intelectuais que fazem de tudo para taxar de idiota ou não-inteligentes os integrantes do outro grupo.
Felizmente, ainda vivemos numa democracia. Cada um pode ler o tipo de livro que quiser, ouvir a música que desejar ou assistir aos filmes de que gosta. Ninguém é obrigado a compartilhar de nossas preferências. Como diria minha sábia avó gosto é igual a b****. E cada um tem a sua. Não temos o direito de criticar ou desmerecer o gosto alheio. Da mesma forma, que tenho o direito de não gostar "mesmo que o mundo inteiro esteja amando" determinado livro ou cultuando algum filme. Você tem o direito de adorá-lo. Na teoria parece tão fácil. Ah mas a realidade está ai para nos mostrar que não somos tanto evoluidos assim.
A triologia criada por Stephenie Meyer tem como trama central o relacionamento entre Bella e Edward. Ela uma adolescente humana e ele um vampiro com a aparência jovem, mas já com uma certa idade, digamos! Os dois se apaixonam perdidamente e se já não bastasse ter que administrarem o fato de viverem em mundos diferentes ainda precisam lutar contra lobos e outros vampiros pela sua sobrevivência.  Essa é a base para uma história de romance como tantas outras que ilustram páginas ou telas de cinema há muito tempo.
Os especialistas em vampiros reclamam que os retratados por Meyer fogem completamente da realidade. A autora americana nos dá a sensação de que a melhor coisa do mundo é ser vampiro. Moraremos em casas lindas perfeitamente decoradas, seremos fortes e bonitos, teremos superpoderes, conquistaremos o amor verdadeiro e eterno e ganharemos uma família perfeita. Por favor, me mordam agora! Aquela imagem soturna de vampiros que não podem ver a luz do sol, que mordem mulheres indefesas e inocentes não tem lugar aqui. Nem Brad Pitt e Tom Cruise em "Entrevista com vampiro" foram capazes de despertar tanta vontade feminina de ser mordida.
Para desespero dos fãs a saga chegou ao fim. O último e tão esperado filme apresenta uma Bella mais madura, agora na condição de mãe e sem dúvidas do seu amor por Edward.  Ele agora é um pai que precisa zelar pela segurança e felicidade de sua família. E Jacob, finalmente, se conformou em não ser correspondido. Contundo, nem tudo são flores. Esse é, sem dúvida, o filme mais soturno da série. Com cenas fortíssimas de batalha, cabeças arrancadas, sangue e muita morte.
Não sei se a adaptação cinematográfica se manteve fiel às páginas ou se atendeu às expectativas dos fãs, mas para uma leiga no assunto foi muito satisfatória. Todos os filmes apresentam alto grau de qualidade técnica, em especial, de efeitos especiais. A transformação dos rapazes em lobos é surpreendente. As cenas de ação nos fazem ficar inquietos na cadeira. Foram 4 filmes que me proporcionaram bons momentos de entretenimento, e também de revolta pela forma esterotipada como o Brasil foi retratado sob certos aspectos. Se você não é fã (esse já viu se bobear várias vezes) deixe o preconceito em casa e vá assistir. Veja com seus próprios olhos e tire a sua conclusão. Duas coisas podem acontecer: gostar ou não.Vai que..

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Vale a pena?

O Rio de Janeiro irá sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016. Isso é fato e notório. E para receber eventos dessa magnitude é necessário uma estrutura e tanto. Para atender essa demanda precisamos melhorar estradas, transportes, segurança, ter pessoal preparado, além de estádios de última geração. Estamos nos preparando com a estruturação de setores como:
 
Transportes (de acordo com o http://www.cidadeolimpica.com):
 
  • Transoeste (corredor expresso para a ligar a Barra da Tijuca à Santa Cruz e Campo Grande);
  • Transcarioca (corredor de alta capacidade responsável por ligar a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional, na Ilha do Governador orçada em R$ 1,5 bilhão);
  • TransBrasil (corredor expresso de ônibus articulados ao longo da Avenida Brasil na altura de Deodoro até o Aeroporto Santos Dumont orçada em R$ 1,3 bilhão);
  • TransOlímpica (corredor expresso que ligará Barra da Tijuca à Deodoro);
  • Porto Maravilha ( revitalização do Porto);
  • Bairro Carioca (construção de 11 condomínios para apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida em terreno comprado da Light em Triagem pela Prefeitura);
  • Morar Carioca (reubanização e infraestrutura de áreas carentes);
  • Viaduto da Perimetral (demolição);
  • Construção de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) 
 
Segurança :
 
  • Pacificação de comunidades;
  • Aumento de contingente de políciais militares através da realização de concursos.
 
Recursos Humanos: criação de cursos para preparação de pessoal para atendimento nos eventos, tais como idioma, hotelaria, etiqueta etc.
 
Hotelaria:
 
  • Reformas de hotéis;
  • Liberação para construção de outros empreendimentos imobiliários;
  • Incentivo a criação de novos albergues.
 
Estádios: Acredito que a obra mais popular, nesse quesito, seja a reforma do Maracanã, no entanto, se juntam a ele : Castelão (Fortaleza), Arena Corinthians (São Paulo),  Mineirão (Belo Horizonte); Mané Garrincha (Brasília); Arena Pantanal (Cuiabá); Arena da Baixada (Curitiba); Arena Pernambuco (Sergipe); Arena da Amazona (Manaus); Arena das Dunas (Natal); Beira Rio (Porto Alegre); e Fonte Nova (Salvador).
 
Seria louco se alguém se manifestasse contrário as melhorias no transporte, na segurança, na criação de novos empregos ou na capacitação de nossos jovens para o mercado de trabalho, além dos empregos diretos e indiretos criados na construção civil. Isso tudo é louvável. O que está em questão são as mudanças para a efetivação do chamado Complexo Maracanã, mais do que as obras no estádio, são as mudanças realizadas em seu entorno. Semana passada tivemos a audiência pública, em que a população deixou bem claro sua contrariedade.  As principais mudanças serão na:
 
  • Remoção e demolição da Escola Friedenreich: referência na educação pública ocupa a 4ª e 7ª posição lugar entre as escolas da cidade do Rio de Janeiro e as do Estado, respectivamente, entre todas as instituições de ensino sejam públicas ou privadas com relação ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Em seu lugar, serão construídas 2 quadras de aquecimento. Será realocada para São Cristovão. 
  •  
  • Demolição do Parque Aquático Júlio de Lamare e da Pista de Atletismo Célio de Barros: reformados recentemente para a realização dos Jogos Panamericanos. Serão "reconstruídos" em terreno da Quinta da Boa Vista. A demolição é justificada para a construção de restaurantes, galerias, lojas etc para gerar renda para possíveis investidores, que mesmo assim, não irão custear o valor total da obra. O Estado e a União continuarão como maior responsável financeiro pelas reformas.
  • Demolição do Museu do Índio para a melhoria de acesso ao Maracanã e evacuação do mesmo em situações de emergência, no entanto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) quando consultado apressou-se em emitir uma nota afirmando não ter exigido a demolição do Museu para criação de rotas de evacuação. 
Nosso governador não cansa de afirmar que tudo que está sendo feito é necessário para sediarmos esses eventos e que sabiamos disso quando nos candidatamos como cidade-sede. Cabe esclarecer que não foi feita uma consulta à população quando nos inscrevemos. Fomos comunicados através da imprensa e só. Também não nos foi fornecida nenhuma explicação sobre as consequências de nossa vitória. Então, sim, estamos sendo pegos de surpresa com todas essas novidades.
 
Será que vale a pena isso tudo? Não somos economistas, mas não parece, no mínimo, sensato investir milhões na reforma de algo para depois derrubá-lo e investir outros milhões na construção de um novo. Gasta-se muito para reformar, depois para destruir e depois para construir novamente. Definitivamente, não faz sentido. Mal comparando seria o mesmo que reformássemos nossa casa para o Natal. Aquela reforma básica patrocinada pelo 13º terceiro. A gente vai lá, pinta tudo, troca cortinas e persianas. Aí quando chegam nossas férias, no meio do ano, resolvemos investir pesado e trocar todas as portas e janelas por modelos maiores. Não teremos que pintar e comprar tudo novamente?
 
Se já tinhamos interesse em sediar esses eventos desde do início dos anos 2000 (fomos eliminados em 2004) porque não pensamos nisso quando nos preparamos para o Panamericano em 2007? Como fomos capazes de contruir um velódromo caríssimo fora dos padrões técnicos mundiais? Culpar o prefeito da época é fácil. Parece que foi o único responsável pela elaboração do projeto. Qualquer leigo sabe que para aprovação de um projeto desses é necessário uma série de assinaturas de gente como secretários de esportes, responsáveis pelas federações esportivas, secretário de meio ambiente, além de inúmeros consultores especializados. E mesmo assim, passou despercebido por todo mundo a construção de um poste no meio do velódromo que impede a visibilidade dos juízes? Não sei o que é pior: pensar no despreparo ou na desonestidade. É desalentador saber que a administração de nossa cidade está sob a responsabilidades de pessoas que acham que o dinheiro público é capim. Essa gastança é desenfreada e irresponsável.
 
Suponhamos que nossos cofres públicos estejam jorrando dinheiro pelo ladrão, que todos os nossos problemas sociais, estruturais, financeiros, ambientais, políticos, educativos enfim tudo esteja resolvido e não tenhamos que nos preocupar com mais nada. E a nossa história vamos jogar fora também? Realocar alunos e professores para outro bairro, quebrar a identidade da comunidade local com o espaço, acabar com o orgulho dessas crianças e profissionais de estudarem e trabalharem em escola pública de qualidade, romper com a memória afetiva e coletiva desse grupo, vale a pena?
 
O Museu do Índio criado em 1953 por Darcy Ribeiro e é a única instituição oficial do país dedicada exclusivamente, a cultura índigena. Posteriormente, seu acervo foi transferido para outro prédio em Botafogo. Atualmente é moradia de 20 índios e abriga o laboratório de análises do Ministério da Agricultura. Recentemente, o Estado adquiriu o imóvel por 60 milhões da Companhia Nacional de Abastecimento. O processo de demolição está bloqueado, pois a Defensoria Pública da União entrou com duas liminares que impendem a derrubada do prédio centenário. Se o COI já afirmou que a permanência do prédio não atrapalha a dispersão do público, se o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) já constatou que  a edificação é recuperável e não constituiu perigo de desmoranamento por que a insistência em derrubá-lo?
 
Mais uma vez, vale a pena?