terça-feira, 13 de novembro de 2012

Vale a pena?

O Rio de Janeiro irá sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016. Isso é fato e notório. E para receber eventos dessa magnitude é necessário uma estrutura e tanto. Para atender essa demanda precisamos melhorar estradas, transportes, segurança, ter pessoal preparado, além de estádios de última geração. Estamos nos preparando com a estruturação de setores como:
 
Transportes (de acordo com o http://www.cidadeolimpica.com):
 
  • Transoeste (corredor expresso para a ligar a Barra da Tijuca à Santa Cruz e Campo Grande);
  • Transcarioca (corredor de alta capacidade responsável por ligar a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional, na Ilha do Governador orçada em R$ 1,5 bilhão);
  • TransBrasil (corredor expresso de ônibus articulados ao longo da Avenida Brasil na altura de Deodoro até o Aeroporto Santos Dumont orçada em R$ 1,3 bilhão);
  • TransOlímpica (corredor expresso que ligará Barra da Tijuca à Deodoro);
  • Porto Maravilha ( revitalização do Porto);
  • Bairro Carioca (construção de 11 condomínios para apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida em terreno comprado da Light em Triagem pela Prefeitura);
  • Morar Carioca (reubanização e infraestrutura de áreas carentes);
  • Viaduto da Perimetral (demolição);
  • Construção de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) 
 
Segurança :
 
  • Pacificação de comunidades;
  • Aumento de contingente de políciais militares através da realização de concursos.
 
Recursos Humanos: criação de cursos para preparação de pessoal para atendimento nos eventos, tais como idioma, hotelaria, etiqueta etc.
 
Hotelaria:
 
  • Reformas de hotéis;
  • Liberação para construção de outros empreendimentos imobiliários;
  • Incentivo a criação de novos albergues.
 
Estádios: Acredito que a obra mais popular, nesse quesito, seja a reforma do Maracanã, no entanto, se juntam a ele : Castelão (Fortaleza), Arena Corinthians (São Paulo),  Mineirão (Belo Horizonte); Mané Garrincha (Brasília); Arena Pantanal (Cuiabá); Arena da Baixada (Curitiba); Arena Pernambuco (Sergipe); Arena da Amazona (Manaus); Arena das Dunas (Natal); Beira Rio (Porto Alegre); e Fonte Nova (Salvador).
 
Seria louco se alguém se manifestasse contrário as melhorias no transporte, na segurança, na criação de novos empregos ou na capacitação de nossos jovens para o mercado de trabalho, além dos empregos diretos e indiretos criados na construção civil. Isso tudo é louvável. O que está em questão são as mudanças para a efetivação do chamado Complexo Maracanã, mais do que as obras no estádio, são as mudanças realizadas em seu entorno. Semana passada tivemos a audiência pública, em que a população deixou bem claro sua contrariedade.  As principais mudanças serão na:
 
  • Remoção e demolição da Escola Friedenreich: referência na educação pública ocupa a 4ª e 7ª posição lugar entre as escolas da cidade do Rio de Janeiro e as do Estado, respectivamente, entre todas as instituições de ensino sejam públicas ou privadas com relação ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Em seu lugar, serão construídas 2 quadras de aquecimento. Será realocada para São Cristovão. 
  •  
  • Demolição do Parque Aquático Júlio de Lamare e da Pista de Atletismo Célio de Barros: reformados recentemente para a realização dos Jogos Panamericanos. Serão "reconstruídos" em terreno da Quinta da Boa Vista. A demolição é justificada para a construção de restaurantes, galerias, lojas etc para gerar renda para possíveis investidores, que mesmo assim, não irão custear o valor total da obra. O Estado e a União continuarão como maior responsável financeiro pelas reformas.
  • Demolição do Museu do Índio para a melhoria de acesso ao Maracanã e evacuação do mesmo em situações de emergência, no entanto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) quando consultado apressou-se em emitir uma nota afirmando não ter exigido a demolição do Museu para criação de rotas de evacuação. 
Nosso governador não cansa de afirmar que tudo que está sendo feito é necessário para sediarmos esses eventos e que sabiamos disso quando nos candidatamos como cidade-sede. Cabe esclarecer que não foi feita uma consulta à população quando nos inscrevemos. Fomos comunicados através da imprensa e só. Também não nos foi fornecida nenhuma explicação sobre as consequências de nossa vitória. Então, sim, estamos sendo pegos de surpresa com todas essas novidades.
 
Será que vale a pena isso tudo? Não somos economistas, mas não parece, no mínimo, sensato investir milhões na reforma de algo para depois derrubá-lo e investir outros milhões na construção de um novo. Gasta-se muito para reformar, depois para destruir e depois para construir novamente. Definitivamente, não faz sentido. Mal comparando seria o mesmo que reformássemos nossa casa para o Natal. Aquela reforma básica patrocinada pelo 13º terceiro. A gente vai lá, pinta tudo, troca cortinas e persianas. Aí quando chegam nossas férias, no meio do ano, resolvemos investir pesado e trocar todas as portas e janelas por modelos maiores. Não teremos que pintar e comprar tudo novamente?
 
Se já tinhamos interesse em sediar esses eventos desde do início dos anos 2000 (fomos eliminados em 2004) porque não pensamos nisso quando nos preparamos para o Panamericano em 2007? Como fomos capazes de contruir um velódromo caríssimo fora dos padrões técnicos mundiais? Culpar o prefeito da época é fácil. Parece que foi o único responsável pela elaboração do projeto. Qualquer leigo sabe que para aprovação de um projeto desses é necessário uma série de assinaturas de gente como secretários de esportes, responsáveis pelas federações esportivas, secretário de meio ambiente, além de inúmeros consultores especializados. E mesmo assim, passou despercebido por todo mundo a construção de um poste no meio do velódromo que impede a visibilidade dos juízes? Não sei o que é pior: pensar no despreparo ou na desonestidade. É desalentador saber que a administração de nossa cidade está sob a responsabilidades de pessoas que acham que o dinheiro público é capim. Essa gastança é desenfreada e irresponsável.
 
Suponhamos que nossos cofres públicos estejam jorrando dinheiro pelo ladrão, que todos os nossos problemas sociais, estruturais, financeiros, ambientais, políticos, educativos enfim tudo esteja resolvido e não tenhamos que nos preocupar com mais nada. E a nossa história vamos jogar fora também? Realocar alunos e professores para outro bairro, quebrar a identidade da comunidade local com o espaço, acabar com o orgulho dessas crianças e profissionais de estudarem e trabalharem em escola pública de qualidade, romper com a memória afetiva e coletiva desse grupo, vale a pena?
 
O Museu do Índio criado em 1953 por Darcy Ribeiro e é a única instituição oficial do país dedicada exclusivamente, a cultura índigena. Posteriormente, seu acervo foi transferido para outro prédio em Botafogo. Atualmente é moradia de 20 índios e abriga o laboratório de análises do Ministério da Agricultura. Recentemente, o Estado adquiriu o imóvel por 60 milhões da Companhia Nacional de Abastecimento. O processo de demolição está bloqueado, pois a Defensoria Pública da União entrou com duas liminares que impendem a derrubada do prédio centenário. Se o COI já afirmou que a permanência do prédio não atrapalha a dispersão do público, se o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) já constatou que  a edificação é recuperável e não constituiu perigo de desmoranamento por que a insistência em derrubá-lo?
 
Mais uma vez, vale a pena?

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