
Javier Bardem
dá um show de interpretação ao dar vida a Uxbal, um homem que vive
a margem da sociedade negociando com chineses e africanos. Sua
mercadoria são pessoas. Chineses e africanos que decidem ganhar a
vida na Espanha. Novamente, temos o tema da imigração ilegal tão
recorrente no cinema europeu moderno. A novidade fica por conta do
trabalho escravo. Vemos um grupo de chineses vivendo em condições
completamente insalubres sendo explorados numa fábrica de produtos
piratas. Enquanto, outro grupo de imigrantes ilegais, dessa vez,
africanos revendem esses produtos nas ruas de uma Espanha nada
glamurosa, completamente diferente, daquele país de primeiro mundo
que conhecemos.
“Biutifill” se passa no submundo da Espanha.
Talvez resida aí a explicação da grafia errada da palavra
beautifill. Não há nada de bonito na história que nos é contada.
Não há beleza nos personagens. Não há beleza no lugar.
Entre um negócio e outro,
Uxbal utiliza seu dom da mediunidade para lucrar com famílias
desesperadas por notícias de seus entes queridos mortos
recentemente. Separado, encontra tempo para cuidar de seus dois
filhos. Leva a vida com a ética que criou para si até que descobre
uma doença grave. Diante de tal notícia tenta organizar sua vida. Sua
maior preocupação é com o futuro de seus filhos.
“Biutifill”
nos apresenta a personagens que fazem tudo por dinheiro que não têm
limites e nem medem esforços para alcançar seus objetivos. O certo
e o errado não existe para esse grupo. Conceitos como ética e
moral passam longe de suas vidas.
Gostei muito do filme e
discordo da crítica de que o diretor, Alejandro Gonzáles Iñárruti, errou em abordar tantos temas
densos como o câncer, a imigração ilegal, o trabalho escravo, a
mediunidade e a bipolaridade. “Biutifill” conta a história de um
homem e todos esses temas permeiam sua a vida. Não há
necessidade de elaborar um tratado sobre cada tema separadamente. É
a maneira com que lida com tudo isso e as influências que exercem em
sua vida que importa na narrativa.
Vale muito a pena ver.