Hoje não poderia deixar de escrever sobre o grande Emílio Santiago. O intérprete carioca faleceu no início da manhã de ontem após complicações de um AVC. Perdemos uma das mais belas vozes da música brasileira. Tive o prazer de crescer ouvindo muita música brasileira, sobretudo, samba graças a meus pais. Durante a semana ouvíamos com minha mãe Emílio Santigo, Clara Nunes, Alcione, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Fundo de Quintal etc. E aos domingos, dia que meu pai era o Dj, ficávamos na companhia de Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Dicró, Jenival Lacerda, Jorge Benjor, Bebeto entre outros.
Conforme fomos crescendo conhecemos outros gêneros musicais e cada um, hoje, tem suas preferências musicais. Contudo, ninguém ficou imune a essa influência. Talvez, eu tenho recebido mais fortemente esse DNA musical. Gosto muito de música internacional. Ouço e consumo, mas nada supera o prazer de ouvir a língua portuguesa melodiada. Absolutamente nada.
Temos excelentes intérpretes femininas Alcione, Gal Costa, Maria Bethânia, Baby Consuelo, Simone, Roberta Sá, Nana Caymmi só para citar algumas, porém masculinos não há tanto. Ney Matogrosso, Milton Nascimento e Emílio Santiago são os que melhor representam essa categoria tão especial. O Milton ainda tem o agravante de ser um excelente compositor. Em contrapartida, na categoria cantor e compositor temos vários, a exemplo, de Chico Buarque, Djavan, Caetano, Lenine, Gilberto Gil, João Bosco e por aí vai.
Emílio sempre foi muito respeitado e admirado por seus pares, além de ter um público grande e fiel, que sempre lotou seus shows. No entanto, infelizmente, nos últimos anos, deixou de ser ouvido pela massa. Estamos vivendo um período na música brasileira que para tocar nas rádios populares é preciso muito investimento de gravadoras. E as gravadoras só querem investir em hiper sucessos de audiência. Sabe aquelas músicas chicletes que com a mesma intensidade que colam, descolam? Pois é, temos a sensação que nunca mais deixarão de tocar, mas aí de repente aparece outra música da moda e imediatamente aquela "melhor música de todos os tempos da última semana" esvai-se.
Esse fenômeno mercadológico segrega artistas como Emílio a um nicho de programas e rádios que só trabalham com determinado tipo de música, como a MPB Fm, que por não ter a mesma visibilidade de outras estações mais populares não consegue alcançar a grande massa. Em minha humilde opinião quem perde é o público. Perde a oportunidade de vivenciar talentos como o de Emílio, dono de uma voz belíssima, capaz de interpretações primorosas.
Entendo as necessidades do mercado fonográfico, mas há espaços para todos. Não tenho nada contra cantores muito populares, independente de seu estilo musical. Jamais farei parte da turma que considera esse setor menor, música feita por e para gente de talento inferior. O talentoso Arnaldo Antunes, em "Música para ouvir" definiu perfeitamente para que serve a música. Para tudo.
Graças a meus pais pude saborear o talento de Emílio Santiago. No meu currículo de fã, carregarei o remorso de não tê-lo assistido ao vivo. Sua discografia diminuirá a saudade que já é enorme. Quem não teve a oportunidade de conhecê-lo ainda há tempo. Sua música é eterna, sua interpretação imortal.
"Seu brilho silencia todo som"
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