Mais uma tragédia comove o Brasil e o mundo. Um incêndio numa boate em Santa Maria (RS) matou 236 pessoas e dezenas ainda correm risco de morte. A provável causa foi um sinalizador utilizado pelo vocalista de uma banda que se apresentava no local. O fogo começou no teto da boate e rapidamente se alastrou, dando origem a uma fumaça preta que tomou conta do local. Tentando sair desesperadamente as vítimas morreram, em sua maioria, por asfixia.
A polícia apura os fatos por isso, ainda, é cedo para determinar o culpado ou os culpados. No entanto, os problemas começam a aparecer. O estabelecimento estava com o álvara de funcionamento vencido, os extintores não funcionaram, seguranças trancaram a porta pensando que as pessoas queriam sair sem pagar a comanda de consumo, não havia saída de emergência, o sinalizador não poderia ter sido usado em ambiente fechado.
O advogado de um dos donos da boate divulgou uma nota em que classificou o incêndio como uma "fatalidade". Não podemos considerar fatalidade algo que poderia ter sido perfeitamente evitado. Vejamos: se o sinalizador não tivesse sido usado não haveria incêndio, se o extintor estivesse funcionado as chamas teriam sido apagadas ou quem sabe não teriam se alastrado tão rapidamente, se a porta estivesse aberta ou se houvesse saídas de emergência um número maior poderia ter sobrevivido. Ah claro, se a fiscalização estivesse agido como manda a lei o estabelecimento não estaria funcionando! Simples assim. Então é, no mínimo, uma falta de respeito às vítimas classificar uma série de irresponsabilidades como fatalidade.
Não há palavras no momento que possam consolar os familiares e amigos dos mortos, contudo, espero que os culpados, quando apurados, sejam severamente punidos. Temos, infelizmente, muitos exemplos de que isso não acontece. O restaurante Filé Carioca que explodiu em 2011 ou o edifício Liberdade que desabou em 2012 ambos, no Centro do Rio de Janeiro, vitimou fatalmente várias pessoas e ninguém até agora foi responsabilizado. O restaurante também estava com seu álvara de funcionamente vencido e não tinha autorização para utilizar gás (GLP). Uma empresa que funcionava no edifício Liberdade resolveu por conta própria fazer uma obra de ampliação e para isso derrubou algumas paredes para melhorar o "leiaute", o que afetou a estrutura do prédio. São exemplos como esses que nos fazem duvidar da capacidade de nosso sistema judiciário.
Outro aspecto que nos chama atenção é a falta de respeito com a fiscalização. Quando do acidente do restaurante Filé Carioca tivemos consciência da precariedade dos órgãos de fiscalização que sofrem com a falta de pessoal e de equipamentos. Qualquer estabelecimento comercial para funcionar precisa atender uma série de normas. Normas que foram feitas para possibilitar o funcionamento correto, seguro e legal, no entanto, a sensação que temos é de que alguns empresários não pensam dessa forma. Para esse grupo estar em dia com a fiscalização significa poder funcionar e lucrar com isso. E para funcionar vale tudo: contratar engenheiro para inventar laudo, subornar funcionários, fazer obras de "maquiagem", colocar em risco a vida de outras pessoas.
A fiscalização deve ser tratada com seriedade por governos, órgãos fiscalizadores, empresários/comerciantes e população. Todos nós devemos entender que ações preventivas são essenciais. Sabe aquele velho ditado: "prevenir para não remediar", pois então, precisamos adotar esse lema em nosso cotidiano. E devemos tratar os infratores com a devida seriedade também. Quantos tragédias mais serão necessárias para mudarmos? Até quando precisaremos chorar nossos mortos para que os erros surjam?
Acordar num domingo com uma notícia dessas é estarrecedor. Ver o número de mortos aumentar vertiginosamente é desesperador. Foram 236 pessoas que perderam suas vidas. Pai, filho, mãe, namorada, namorado, amigo, amiga, marido, esposa... laços que foram bruscamente rompidos, mais uma vez, pela irresponsabilidade de alguns. Que a dor e a tristeza de quem perdeu um ente querido nessa tragédia seja o motor da justiça no julgamento dos culpados.
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