quarta-feira, 29 de maio de 2013

Umberto Eco


Em nome do livro

Umberto Eco - UOL Notícias - 25/05/13
O mundo do colecionar abrange toda sorte de objetos díspares. Patrícios romanos colecionavam antiguidades gregas (até mesmo falsas). Catálogos modernos de casas de leilão exibem de tudo, de pinturas de artistas de renome internacional até meias que já pertenceram ao duque de Windsor. Os mercados de pulgas estão repletos de entusiastas à procura de cartões de telefone, objetos maçônicos, cartões postais, adesivos, chaves, garrafas de Coca-Cola, lâminas de barbear, diplomas, garrafas em miniatura de bebidas alcoólicas, pacotes de açúcar --e assim por diante.


É óbvio que esse tipo de coleção beira a mania. Colecionar livros antigos, por outro lado, é uma busca totalmente defensável, independentemente de os objetos cobiçados serem obras raras e caras do século 15 ou primeiras edições do século 20. Além disso, há um gênero editorial conhecido como "livros sobre livros", que, na prática, é outra forma de colecionar livros --compilando, comparando e dando sentido a eles.



No século 19, os maiores especialistas no gênero livros sobre livros eram os franceses: pode-se pensar, por exemplo, no bibliófilo Charles Nodier, que, como diretor de uma divisão da biblioteca nacional da França, influenciou enormemente alguns dos escritores mais notáveis de sua época. Desde o século 20, entretanto, o gênero livros sobre livros prosperou principalmente nos países de língua inglesa. É claro, muitos livros falam sobre outros livros, como no caso de histórias da literatura, mas, de modo geral, o gênero trata da história dos livros. Também inclui alguns exemplos de nicho, como estudos sobre dedicatórias e prefácios nos livros do século 17.



Recentemente, eu também notei um renascimento do gênero livros sobre livros na Itália. Para se ter uma ideia do escopo dessa tendência, bastaria consultar o catálogo da meritória (e, a propósito, em risco) editora Edizioni Sylvestre Bonnard --que leva o nome do bibliófilo no centro de "O Crime de Sylvestre Bonnard", de Anatole France, fundada e dirigida por Vittorio di Giuro.



O catálogo inclui mais de cem títulos, que vão de "The Footnote: A Curious History" (A nota de rodapé: uma história curiosa, em tradução livre), de Anthony Grafton, até livros de Hans Tuzzi, que não apenas escreveu a obra seminal "Collezionare Libri Antichi, Rari, di Pregio" (Colecionando livros antigos, raros e valiosos, em tradução livre), como também inventou uma espécie de subgênero dos livros sobre livros: investigações policiais que mergulham no mundo dos vendedores de livros antigos.



Nos últimos dois anos foram publicados "Collezionismo Librario e Biblioteche d"Autore: Viaggio Negli Archivi Culturali" (Coleção de livros e bibliotecas de autor: uma jornada pelos arquivos culturais, em tradução livre), uma compilação que examina discernimentos culturais sobre o que as bibliotecas e coleções pessoais de livros têm a oferecer; assim como "Lo Scaffale Infinito: Storie di Uomini Pazzi per i Libri" (A Prateleira infinita: histórias de homens loucos por livros, em tradução livre), de Andrea Kerbaker, que mostra bibliófilos ao longo das eras, de Petrarca a Jorge Luis Borges, do cardeal Mazarino à madame de Pompadour.



Outra obra recente, "Per Hobby e per Passione" (Por hobby ou por paixão, em tradução livre), de Giulietta Rovera, não se limita aos colecionadores de livros, mas, como seu subtítulo promete, cobre grande parte do universo dos colecionadores: "De fanáticos por Barbies a ladrões de manuscritos, de adoradores do sexo a colecionadores de borboletas".



Por que todo esse interesse por colecionar livros em uma época em que a mídia parece insaciavelmente ávida em citar qualquer um argumentando que o livro impresso está caindo em desuso e logo será substituído pelos livros eletrônicos? Uma resposta é: porque tão logo um objeto começa a desaparecer do mercado, as pessoas começam a colecionar os exemplares sobreviventes.



Mas essa não pode ser toda a explicação, pois colecionar livros já era uma atividade que prosperava muito antes do surgimento dos livros eletrônicos e das pessoas começarem a prever o fim da palavra impressa. Talvez a resposta seja simplesmente a de que, diante da previsão da extinção do livro impresso --mesmo sendo uma previsão apocalíptica absurda--, nós experimentamos um novo despertar, um reacender de nosso amor por esse objeto mágico que existe há muito mais tempo que o prelo. Os calafrios que percorrem nossas espinhas diante do simples pensamento de que os livros possam algum dia desaparecer é o que nos leva a escrever sobre eles, nos concentrarmos neles, colecioná-los. Eles estavam aqui muito antes de você ou eu; que eles vivam por muito mais tempo que todos nós.



Tradutor: George El Khouri Andolfato

quarta-feira, 10 de abril de 2013

BIUTIFIUL


Biutiful

           Javier Bardem dá um show de interpretação ao dar vida a Uxbal, um homem que vive a margem da sociedade negociando com chineses e africanos. Sua mercadoria são pessoas. Chineses e africanos que decidem ganhar a vida na Espanha. Novamente, temos o tema da imigração ilegal tão recorrente no cinema europeu moderno. A novidade fica por conta do trabalho escravo. Vemos um grupo de chineses vivendo em condições completamente insalubres sendo explorados numa fábrica de produtos piratas. Enquanto, outro grupo de imigrantes ilegais, dessa vez, africanos revendem esses produtos nas ruas de uma Espanha nada glamurosa, completamente diferente, daquele país de primeiro mundo que conhecemos. 
         “Biutifill” se passa no submundo da Espanha. Talvez resida aí a explicação da grafia errada da palavra beautifill. Não há nada de bonito na história que nos é contada. Não há beleza nos personagens. Não há beleza no lugar.
Entre um negócio e outro, Uxbal utiliza seu dom da mediunidade para lucrar com famílias desesperadas por notícias de seus entes queridos mortos recentemente. Separado, encontra tempo para cuidar de seus dois filhos. Leva a vida com a ética que criou para si até que descobre uma doença grave. Diante de tal notícia tenta organizar sua vida. Sua maior preocupação é com o futuro de seus filhos.

        “Biutifill” nos apresenta a personagens que fazem tudo por dinheiro que não têm limites e nem medem esforços para alcançar seus objetivos. O certo e o errado não existe para esse grupo. Conceitos como ética e moral passam longe de suas vidas.

        Gostei muito do filme e discordo da crítica de que o diretor, Alejandro Gonzáles Iñárruti, errou em abordar tantos temas densos como o câncer, a imigração ilegal, o trabalho escravo, a mediunidade e a bipolaridade. “Biutifill” conta a história de um homem e todos esses temas permeiam sua a vida. Não há necessidade de elaborar um tratado sobre cada tema separadamente. É a maneira com que lida com tudo isso e as influências que exercem em sua vida que importa na narrativa.
           Vale muito a pena ver.  


quinta-feira, 21 de março de 2013

Emílio Santiago




Hoje não poderia deixar de escrever sobre o grande Emílio Santiago. O intérprete carioca faleceu no início da manhã de ontem após complicações de um AVC. Perdemos uma das mais belas vozes da música brasileira. Tive o prazer de crescer ouvindo muita música brasileira, sobretudo, samba graças a meus pais. Durante a semana ouvíamos com minha mãe Emílio Santigo, Clara Nunes, Alcione, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Fundo de Quintal etc. E aos domingos, dia que meu pai era o Dj, ficávamos na companhia de Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Dicró, Jenival Lacerda, Jorge Benjor, Bebeto entre outros.

Conforme fomos crescendo conhecemos outros gêneros musicais e cada um, hoje, tem suas preferências musicais. Contudo, ninguém  ficou imune a essa influência. Talvez, eu tenho recebido mais fortemente esse DNA musical. Gosto muito de música internacional. Ouço e consumo, mas nada supera o prazer de ouvir a língua portuguesa melodiada. Absolutamente nada. 

Temos excelentes intérpretes femininas Alcione, Gal Costa, Maria Bethânia, Baby Consuelo, Simone, Roberta Sá, Nana Caymmi só para citar algumas, porém masculinos não há tanto. Ney Matogrosso, Milton Nascimento e Emílio Santiago são os que melhor representam essa categoria tão especial. O Milton ainda tem o agravante de ser um excelente compositor. Em contrapartida, na categoria cantor e compositor temos vários, a exemplo, de Chico Buarque, Djavan, Caetano, Lenine, Gilberto Gil, João Bosco e por aí vai.

Emílio sempre foi muito respeitado e admirado por seus pares, além de ter um público grande e fiel, que sempre lotou seus shows. No entanto, infelizmente, nos últimos anos, deixou de ser ouvido pela massa. Estamos vivendo um período na música brasileira que para tocar nas rádios populares é preciso muito investimento de gravadoras. E as gravadoras só querem investir em hiper sucessos de audiência. Sabe aquelas músicas chicletes que com a mesma intensidade que colam, descolam? Pois é, temos a sensação que nunca mais deixarão de tocar, mas aí de repente aparece outra música da moda e imediatamente aquela "melhor música de todos os tempos da última semana" esvai-se. 

Esse fenômeno mercadológico segrega artistas como Emílio a um nicho de programas e rádios que só trabalham com determinado tipo de música, como a MPB Fm, que por não ter a mesma visibilidade de outras estações mais populares não consegue alcançar a grande massa. Em minha humilde opinião quem perde é o público. Perde a oportunidade de vivenciar talentos como o de Emílio, dono de uma voz belíssima, capaz de interpretações primorosas.

Entendo as necessidades do mercado fonográfico, mas há espaços para todos. Não tenho nada contra cantores muito populares, independente de seu estilo musical. Jamais farei parte da turma que considera esse setor menor, música feita por e para gente de talento inferior. O talentoso Arnaldo Antunes, em "Música para ouvir" definiu perfeitamente para que serve a música. Para tudo.

Graças a meus pais pude saborear o talento de Emílio Santiago. No meu currículo de fã, carregarei o remorso de não tê-lo assistido ao vivo. Sua discografia diminuirá a saudade que já é enorme. Quem não teve a oportunidade de conhecê-lo ainda há tempo. Sua música é eterna, sua interpretação imortal.

"Seu brilho silencia todo som"

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Irresponsabilidade

Mais uma tragédia comove o Brasil e o mundo. Um incêndio numa boate em Santa Maria (RS) matou 236 pessoas e dezenas ainda correm risco de morte. A provável causa foi um sinalizador utilizado pelo vocalista de uma banda que se apresentava no local. O fogo começou no teto da boate e rapidamente se alastrou, dando origem a  uma fumaça preta que tomou conta do local. Tentando sair desesperadamente as vítimas morreram, em sua maioria, por asfixia.
 
A polícia apura os fatos por isso, ainda, é cedo para determinar o culpado ou os culpados. No entanto, os problemas começam a aparecer. O estabelecimento estava com o álvara de funcionamento vencido, os extintores não funcionaram, seguranças trancaram a porta pensando que as pessoas queriam sair sem pagar a comanda de consumo, não havia saída de emergência, o sinalizador não poderia ter sido usado em ambiente fechado.
 
O advogado de um dos donos da boate divulgou uma nota em que classificou o incêndio como uma "fatalidade". Não podemos considerar fatalidade algo que poderia ter sido perfeitamente evitado. Vejamos: se o sinalizador não tivesse sido usado não haveria incêndio, se o extintor estivesse funcionado as chamas teriam sido apagadas ou quem sabe não teriam se alastrado tão rapidamente, se a porta estivesse aberta ou se houvesse saídas de emergência um número maior poderia ter sobrevivido. Ah claro, se a fiscalização estivesse agido como manda a lei o estabelecimento não estaria funcionando! Simples assim. Então é, no mínimo, uma falta de respeito às vítimas classificar uma série de irresponsabilidades como fatalidade.
 
Não há palavras no momento que possam consolar os familiares e amigos dos mortos, contudo, espero que os culpados, quando apurados, sejam severamente punidos. Temos, infelizmente, muitos exemplos de que isso não acontece. O restaurante Filé Carioca que explodiu em 2011 ou o edifício Liberdade que desabou em 2012 ambos, no Centro do Rio de Janeiro, vitimou fatalmente várias pessoas e ninguém até agora foi responsabilizado. O restaurante também estava com seu álvara de funcionamente vencido e não tinha autorização para utilizar gás  (GLP).  Uma empresa que funcionava no edifício Liberdade resolveu por conta própria fazer uma obra de ampliação e para isso derrubou algumas paredes para melhorar o "leiaute", o que afetou a estrutura do prédio.  São exemplos como esses que nos fazem duvidar da capacidade de nosso sistema judiciário.
 
Outro aspecto que nos chama atenção é a falta de respeito com a fiscalização. Quando do acidente do restaurante Filé Carioca tivemos consciência da precariedade dos órgãos de fiscalização que sofrem com a falta de pessoal e de equipamentos. Qualquer estabelecimento comercial para funcionar precisa atender uma série de normas. Normas que foram feitas para possibilitar o funcionamento correto, seguro e legal, no entanto, a sensação que temos é de que alguns empresários não pensam dessa forma. Para esse grupo estar em dia com a fiscalização significa poder funcionar e lucrar com isso. E para funcionar vale tudo: contratar engenheiro para inventar laudo, subornar funcionários, fazer obras de "maquiagem", colocar em risco a vida de outras pessoas.
 
A fiscalização deve ser tratada com seriedade por governos, órgãos fiscalizadores, empresários/comerciantes e população. Todos nós devemos entender que ações preventivas são essenciais. Sabe aquele velho ditado: "prevenir para não remediar", pois então, precisamos adotar esse lema em nosso cotidiano. E devemos tratar os infratores com a devida seriedade também. Quantos tragédias mais serão necessárias para mudarmos? Até quando precisaremos chorar nossos mortos para que os erros surjam? 
 
Acordar num domingo com uma notícia dessas é estarrecedor. Ver o número de mortos aumentar vertiginosamente é desesperador. Foram 236 pessoas que perderam suas vidas. Pai, filho, mãe, namorada, namorado, amigo, amiga, marido, esposa... laços que foram bruscamente rompidos, mais uma vez, pela irresponsabilidade de alguns. Que a dor e a tristeza de quem perdeu um ente querido nessa tragédia seja o motor da justiça no julgamento dos culpados.
 
 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Admiradora Secreta

 
 
Tarde nublada nada melhor do que ver um bom filme. Zapeando eis que encontro um clássico da Sessão da Tarde, "Admiradora Secreta" (1985). Perdi as contas de contas vezes já assisti esse filme. Não perdia uma exibição. Mesmo que precisasse fingir algum mal estar súbito para faltar a escola (Desculpa, mãe!).
 
Para quem nunca assistiu, o filme conta a história de um rapaz que recebe uma carta de amor anônima. Convencido de que se trata da garota por quem é apaixonado resolver respondê-la. As cartas são extravidas e está aberta a temporada de confusões e mal entendidos. Enrendo simples, mas daqueles capazes de prender a atenção do telespectador. 
 
Os adolescentes de hoje não teriam "saco" de assisti-lo. Acharão chato ou quem sabe infantil demais esse negócio de "cartinha de amor". O filme aborda questões inerentes aos adolescentes da década de 1980 como insegurança, medo, aceitação etc. Temas presentes ainda hoje, contudo, sem que tudo gire em torno do sexo. Não espere ver um "American Pie" ou similares.
 
Excelente oportunidade de ver a atrizes Kelly Preston e Lori Loughlin e o ator C. Thomas Howell bem novinhos, além de matar as saudades dos anos 1980.
 
 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Um lugar na janela

 
Ganhei de presente de Natal o mais recente livro da Martha Medeiros, "Um lugar na janela : relatos de viagem" (L&PM, 2012) e como fã me apressei em lê-lo. Martha elaborou um livro despretensioso, uma espécie de conversa com seu leitor sobre suas viagens com a qualidade que lhe é peculiar. O tom de conversa fica claro já na introdução quando nos adverte que não se trata de um guia ou compêndio de dicas para viajantes, mas sim algumas histórias que viveu mundo afora e que resolveu compartilhar conosco.
 
A autora de "Divã" nos conta sobre sua aventura "mochileira" à Europa com pouco dinheiro e muita vontade de conhecer o mundo. Nos brinda com suas impressões de lugares como Turquia, Paris, Itália, Suíça, Fernando de Noronha, Rio de Janeiro entre outros. Sozinha ou acompanhada. Com ou sem dinheiro. Não importa. Martha cumpre sua promessa e não se preocupa em nos passar dados sobre restaurantes, hotéis ou pontos turísticos.

Livro de leitura fácil e agradável. Ideal para o início de ano, período em que estamos envolto naquele desejo de realizar todas as promessas não cumpridas em anos anteriores. Sua leitura nos desperta o desejo de arrumar as malas e partir rumo a um destino incerto, do qual voltaríamos com muitas histórias para contar. Quem sabe não está na hora de fazer aquela viagem sonhada há tanto tempo?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Talento

Dona Picucha rodeada pela família (Foto: Fabio Rebelo / TV Globo)
Elenco reunido
 
A rede Globo exibiu no dia 27 de dezembro de 2012 o excelente especial de Natal, "Doce de mãe", que contou a história de uma senhora octogenária, Dona Picucha (Fernanda Montenegro), viúva, que se vê sozinha após a empregada de longa data se demitir. Agora seus filhos Fernando (Matheus Nachtergaele), Sílvio (Marco Ricca), Elaine (Louise Cardoso) e Susana (Marina Lima) precisam decidir quem ficará encarregado de cuidar da mãe. No entanto, todos se consideram ocupadíssimos para essa empreitada. Começa, então, um jogo de empurra e empurra para definir quem ficará com a matriarca. Enquanto isso, empolgada com a idéia de morar sozinha, Dona Picucha, luta contra a insistência dos filhos em contratar uma nova empregada, porém, a idade já lhe impõem algumas restrições como os constantes esquecimentos, que podem pôr em risco sua vida.
 
Sem dúvidas, o melhor especial exibido pela emissora nos últimos anos. Quem não assistiu  perdeu a oportunidade de conferir, mais uma vez, uma grande atuação de Fernanda Montenegro. Já sabemos de longa data de seu talento. Muitas foram as vezes que deu vida a personagens memoráveis como a Iraci, (Queridos Amigos), Charlô (Guerra dos Sexos), Bia Falcão (Belíssima) só para citar algumas. Mas, é sempre bom vê-la em ação. Em tempos de tanta falta de talento na dramaturgia com atores mais preocupados em agir feito celebridades do que a exercer, de fato, a profissão atuações como essa merecem todo o destaque. 
 
"Doce de mãe" foi produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, responsáveis também por Decamerão (2009) e Homens de Bem (2001). Os roteristas Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo abordaram um tema não muito debatido em nossa sociedade: o cuidado das pessoas idosas? Nossa qualidade de vida melhorou muito, nos últimos anos, estamos vivendo muito mais e a tendência é aumentar ainda mais. Sendo assim, chegará um momento em que nossas famílias precisarão decidir o que fazer conosco. 
 
Quando se tem talento tudo parece tão fácil. Dona Picucha ganhou vida através da representação belíssima de Fernanda Montenegro, que esteve muito bem acompanhada em cena de atores do quilates de Matheus Nachtergaele, Marco Ricca, Louise Cardoso e Marina Lima, mas ninguém brilhou mais que ela. Seria maravilhoso se pudessemos vê-la em ação com mais frequência. Fernanda Montenegro transforma a arte de atuar em algo simples. Dá vontade de assisti-la eternamente.
 
Viva o talento, viva Fernanda Montenegro!